quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Psicografia heterodoxa de Caio para o século XXI e suas duras ternuras.


Por Jair Junior Monteiro Solin e Elizabete Lima

Para suportar Agosto é necessário um refúgio. Um ponto de descanso. Uma fonte de água para hidratar a sequidão que ronda esse mês.
Para atravessar Agosto é necessário ser blasé, ter um ar distraído, quase intocável para ignorar a mediocridade alheia de quem nada acrescenta.
Parecerá difícil no começo, mas com o tempo se desenvolverá naturalmente uma espécie de anticorpo agostiano, que se alimenta e se reproduz principalmente na mistura de alguns vinhos, comidas prazerosas com nível elevado de lipídios e uma solidão recalcada. Agosto nos come primeiro pela cabeça, até chegar aos pés, por isso é bom manter-se em estado de inatividade cerebral, às vezes, para evitar a disseminação de fungos e bactérias agostianos nos miolos, causadores de melancolia, auto-ira, carência crônica, falta de perspectiva, necessidade absurda de implosão, ausência de aminoácidos, olhar distante, surdez induzida e ressecamento do apetite sexual. Agosto nos fere sem piedade, por isso é preciso não ter piedade de Agosto, ainda que ele se mostre próspero. Procure queimar os livros da Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, pessoas que conhecem muito bem Agosto tendem a flori-lo ainda que estejam deturpando-o. Procure Deus loucamente, em todos os cômodos.
Sim para atravessar Agosto Deus precisa estar em todos os cômodos da sua casa, do seu coração, da sua alma. Desejado, buscado e encontrado entre o nascer do sol e o cair da tarde, sem desvios ou distrações.
Talvez você pense, mas Agosto não é tão complexo assim! Aí que você se engana. Por trás dos dias aparentemente normais, se esconde entre o sopro do vento e o cair da tarde uma morosidade quase fatal. Uma leve cimitarra atravessando levemente seus poros, quase sedutora, sutil e perspicaz.
Cachorro louco? Tu que pensas! Loucos ficam os homens em Agosto, e o pior, aparentando sanidade psicológica. É o mês em que a loucura se disfarça de santa e nos obriga a rezar um terço de paranóias. Mas o que é mais peculiar, é que em Agosto, não se consegue expor o teatro de dentro. Os efeitos internos do mês não se assentam em nenhuma língua, Agosto quer fazer de você um autista.  Se você for ao médico, ele certamente lhe dirá que você está hipocondríaco. E, só pra lembrar: ágüe e cuide mais do que o normal de suas plantas. Agosto costuma tirar a beleza das flores e embelezar capins.
Sim há certo ar sedutor que isso tudo propõe. Não se deixe conduzir pela idéia. As conseqüências são irreversíveis. Uma vez exposto a loucura e a sequidão nada será como antes. Nada será mais sedutor do que adentrar de Agosto em Agosto, lamuriando os julhos e esperando os resquícios de inverno e o florir que Setembro propõe.
Não, não é loucura. É agosto.
Paciência e fé me parecem pouco. Não se abater me parece vago. Se esconder me parece fraco. Ele exige algo mais. Exige a firmeza que se esconde em algum cômodo da alma. Como se todo nosso ser já soubesse as artimanhas engenhosas que Agosto pode causar às almas puras e levemente inocentes que vêem ele apenas como o oitavo mês do ano.
Procure cuidar com mais atenção de quem você ama, e a mimosear mais pasto para quem você não ama nem um pouco. Os amantes descontentes têm tendência a ficarem mais descontentes ainda (superando o nível saudável) e as antas têm uma leve tendência a se transformarem em búfalos. Seja diplomata.
Agosto não tem gosto. Trocadilho ordinário, típico de Agosto. Esse mês costuma nos ordinarizar e inventar verbos inexistentes. É água de batata servida como água de rosas. É purê de jaca.  É Agosto o mês dos morangos gorduchos, e é em agosto que eles mais mofam.  Sim, você comprará morangos para colorir um pouco seu estômago e sua flora intestinal. Mas, meu caro, não vai adiantar. Sua flora virará fauna, e os morangos, hão de mofar.
Compre serotonina. Se empanturre de chocolate e corra esquizofrenicamente como um atleta, ainda que em fim de carreira, sue como um porco atlético. Em último caso, hiberne, com pantufas ridículas e uma vinícola inteira de garrafas de vinho ao redor, franceses, portugueses, chilenos ou paraibanos. Ouça algo ridículo também, tipo Ivan Lins.  Assista ao programa da Angélica ao invés das entrevistas da Marília Gabriela. Não tome Brahma, e sim Bavária. Ao invés da Coca-Cola, Dolly de uva. Absolut Vodka, Balalaika.  Acredite, isso tudo pode te distrair de Agosto.  Inverta valores. Todos os anos, setembro é um parto terrível. É como parir a copa de uma árvore. Fé.
Tosse seca e frigidez intelectual fazem parte do pacote.
Agora é só sorrir e fingir que tudo ao redor corre bem, até sentirmos a segurança de setembro. Com seu sol luminoso, ar floral e esperança de renascer impressa sutilmente no correr das horas.
E  se nada disso fizer sentindo, tudo bem. É Agosto. Nada faz muito sentido por aqui. Até Setembro chegar, até Setembro chegar.

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