sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sobre o eterno.



Isso é até meio clichê.
Mas eu acredito no eterno sabe.
Talvez porque, conhecida uma vez pela minha alma essa certeza de que um dia ela se entregara ao descanso do coração de Deus.
Por que crer que não é só isso aqui mesmo.
Eu acredito sim que há coisas que foram feitas para durar. Relações que foram feitas para a eternidade.
Acredito que assim como eu, muitas pessoas tem na vida alguém, que por mais as vezes que a barra pese, que por mais que as coisas fiquem difíceis, algo nunca permite que você se afaste.
Alguém que só de pensar em não ter mais no irrisório cotidiano  já chega faltar o ar.
Alguém que você sabe que por mais dos desvios impostos pelo Senhor tempo, nada tirará de sua vida.
Eu acredito sim no eterno. Pode achar inocência. Bobagem e afins. Mas acredito.
E isso eu sei não é para qualquer um não. Pois para fazer eterno é necessário um desejo pessoal muito forte. È necessário decisão. È necessário todos os dias renovar aquele primeiro olhar. Aquela primeira afinidade do coração.
È necessário a esperança.
E crer que não há descompasso, desajuste ou dificuldade que faça com que se deseje menos alguém.
Eu acredito sim. Nem sempre é fácil acreditar. Fácil e viver no provisório. Viver sem tocar profundamente a vida de alguém. Fácil e viver na superfície, pois só exige pouco de nós.
Difícil e querer eternidade. È saber exatamente o que algo ou alguém é e assumir os riscos de tal decisão. 
Eu acredito no eterno. E acredito que não será confundido o meu coração por causa disso. 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sobre o fim.


Há um pequeno alarme que ressoa dentro da gente quando algo esta prestes acabar.
A gente sempre sabe quando algo chega ao fim.
Sempre sabe do limite de sapos que , se consegue  engolir sem perder a forma.  
Sempre sabe quantos suspiros profundos passa pelo pulmão sem estragos aparentes.
A gente sempre sabe, qual vai ser a gota que faz o copo todo trasbordar.
Ou o limite da paciência para as palavras ditas de qualquer modo.
Sempre sabe.
Há um sutileza no fim. 
E não foi diferente desta vez.
A soma das omissões. Covardias. Indelicadezas.
As meias verdades e mentiras sinceras.
Sempre é possível saber quando algo acabou.
Quando algo deixa de fazer sentido e poesia dentro da gente.
Sem alarde. Sem tempo para despedidas.
Sem lagrimas.
Sem tempo de criar uma defesa ou justificativa para desacreditar em tal verdade.
Sem  discursos de despedida. 
Só se sabe da dor.
Da dor de saber que algo lindo morreu dentro da gente sem tempo de prantear sua ida. Ou que as doses homeopáticas de tristezas não deram tempo para defesa de um pobre coração.
O coração sempre sabe sobre o fim.
E assim parte rumo a um novo horizonte.
E não há nada a se fazer, além de ir de encontro com o que virá.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Psicografia heterodoxa de Caio para o século XXI e suas duras ternuras.


Por Jair Junior Monteiro Solin e Elizabete Lima

Para suportar Agosto é necessário um refúgio. Um ponto de descanso. Uma fonte de água para hidratar a sequidão que ronda esse mês.
Para atravessar Agosto é necessário ser blasé, ter um ar distraído, quase intocável para ignorar a mediocridade alheia de quem nada acrescenta.
Parecerá difícil no começo, mas com o tempo se desenvolverá naturalmente uma espécie de anticorpo agostiano, que se alimenta e se reproduz principalmente na mistura de alguns vinhos, comidas prazerosas com nível elevado de lipídios e uma solidão recalcada. Agosto nos come primeiro pela cabeça, até chegar aos pés, por isso é bom manter-se em estado de inatividade cerebral, às vezes, para evitar a disseminação de fungos e bactérias agostianos nos miolos, causadores de melancolia, auto-ira, carência crônica, falta de perspectiva, necessidade absurda de implosão, ausência de aminoácidos, olhar distante, surdez induzida e ressecamento do apetite sexual. Agosto nos fere sem piedade, por isso é preciso não ter piedade de Agosto, ainda que ele se mostre próspero. Procure queimar os livros da Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, pessoas que conhecem muito bem Agosto tendem a flori-lo ainda que estejam deturpando-o. Procure Deus loucamente, em todos os cômodos.
Sim para atravessar Agosto Deus precisa estar em todos os cômodos da sua casa, do seu coração, da sua alma. Desejado, buscado e encontrado entre o nascer do sol e o cair da tarde, sem desvios ou distrações.
Talvez você pense, mas Agosto não é tão complexo assim! Aí que você se engana. Por trás dos dias aparentemente normais, se esconde entre o sopro do vento e o cair da tarde uma morosidade quase fatal. Uma leve cimitarra atravessando levemente seus poros, quase sedutora, sutil e perspicaz.
Cachorro louco? Tu que pensas! Loucos ficam os homens em Agosto, e o pior, aparentando sanidade psicológica. É o mês em que a loucura se disfarça de santa e nos obriga a rezar um terço de paranóias. Mas o que é mais peculiar, é que em Agosto, não se consegue expor o teatro de dentro. Os efeitos internos do mês não se assentam em nenhuma língua, Agosto quer fazer de você um autista.  Se você for ao médico, ele certamente lhe dirá que você está hipocondríaco. E, só pra lembrar: ágüe e cuide mais do que o normal de suas plantas. Agosto costuma tirar a beleza das flores e embelezar capins.
Sim há certo ar sedutor que isso tudo propõe. Não se deixe conduzir pela idéia. As conseqüências são irreversíveis. Uma vez exposto a loucura e a sequidão nada será como antes. Nada será mais sedutor do que adentrar de Agosto em Agosto, lamuriando os julhos e esperando os resquícios de inverno e o florir que Setembro propõe.
Não, não é loucura. É agosto.
Paciência e fé me parecem pouco. Não se abater me parece vago. Se esconder me parece fraco. Ele exige algo mais. Exige a firmeza que se esconde em algum cômodo da alma. Como se todo nosso ser já soubesse as artimanhas engenhosas que Agosto pode causar às almas puras e levemente inocentes que vêem ele apenas como o oitavo mês do ano.
Procure cuidar com mais atenção de quem você ama, e a mimosear mais pasto para quem você não ama nem um pouco. Os amantes descontentes têm tendência a ficarem mais descontentes ainda (superando o nível saudável) e as antas têm uma leve tendência a se transformarem em búfalos. Seja diplomata.
Agosto não tem gosto. Trocadilho ordinário, típico de Agosto. Esse mês costuma nos ordinarizar e inventar verbos inexistentes. É água de batata servida como água de rosas. É purê de jaca.  É Agosto o mês dos morangos gorduchos, e é em agosto que eles mais mofam.  Sim, você comprará morangos para colorir um pouco seu estômago e sua flora intestinal. Mas, meu caro, não vai adiantar. Sua flora virará fauna, e os morangos, hão de mofar.
Compre serotonina. Se empanturre de chocolate e corra esquizofrenicamente como um atleta, ainda que em fim de carreira, sue como um porco atlético. Em último caso, hiberne, com pantufas ridículas e uma vinícola inteira de garrafas de vinho ao redor, franceses, portugueses, chilenos ou paraibanos. Ouça algo ridículo também, tipo Ivan Lins.  Assista ao programa da Angélica ao invés das entrevistas da Marília Gabriela. Não tome Brahma, e sim Bavária. Ao invés da Coca-Cola, Dolly de uva. Absolut Vodka, Balalaika.  Acredite, isso tudo pode te distrair de Agosto.  Inverta valores. Todos os anos, setembro é um parto terrível. É como parir a copa de uma árvore. Fé.
Tosse seca e frigidez intelectual fazem parte do pacote.
Agora é só sorrir e fingir que tudo ao redor corre bem, até sentirmos a segurança de setembro. Com seu sol luminoso, ar floral e esperança de renascer impressa sutilmente no correr das horas.
E  se nada disso fizer sentindo, tudo bem. É Agosto. Nada faz muito sentido por aqui. Até Setembro chegar, até Setembro chegar.