segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Múltipla escolha ♥


Queridos. Deixo para vocês um trecho do Livro Múltipla escolha que estou lendo e fascinada. Recomendo!

“Nessa falta de parâmetros, a tentação de experimentar pode se tornar uma idéia fixa. Tudo parece estar disponível: riqueza, beleza, juventude eterna, viagens, prazeres, promiscuidade ( o que é que tem?) , mil modos de abafar dúvidas e angústias.
Queremos presença e segurança, porém, em vez de estímulos e ajuda,sofremos desde muito cedo mil cobranças: O que você vai ser? O que vai estudar? Como, fracassou em mais um vestibular? Já transou? Nunca transou? Onze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer? E um Viagra pra melhorar ainda mais? Ainda agüenta os chatos dos pais? Saiba que eles te controlam sob o pretexto de que te amam. Sai dessa! Já tendo que trabalhar? E mais tarde: Quarenta anos, e ganhando tão pouco? Tanto compromisso? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort? Não viu aquele filme,nem assistiu àquele espetáculo?
Como raramente cumprimos esses mandados, já ao levantar de manhã nos acompanha a sensação de que algo está errado conosco: dúvida e frustração. Somos severos cobradores das nossas próprias ações.
No esforço de realizar tarefas que talvez nem nos digam respeito, tememos olhar em torno e constatar que muita coisa falhou. Se falharmos, quem haverá de nos desculpar, de nos aceitar, onde nos encaixaremos ,nesse universo de exitosos, bem-sucedidos, ricos e belos? Pois não se permite o erro, o fracasso, nesse ambiente perfeito. Duro dizer “amei torto, ignorei meus filhos, falhei com minha parceira ou parceiro, votei errado, fracassei na profissão, não ajudei meu amigo,abandonei meus velhos pais e esqueci meus sonhos”
Queremos,mais do que o possível, o espantoso: atividade, dinheiro, saúde, perfeição física , competitividade no trabalho, desempenho no amor, quem sabe até a foto naquela revista, a entrevista , os segundos de fama.
Mas sofremos a solidão no quarto, a ausência à mesa, a alegria perdida, o rosto onde nada combina, o silicone que escorre, a cicatriz que ressurge, e o tempo que ri de nós porque não o soubemos encarar. Enquanto nós, teatro mambembe de pequenos absurdos,ainda não encontramos nem a roupa nem o texto, nem sabemos quem vai nos dirigir, platéia de nós mesmos, sentada no escuro.
Carentes de uma escuta interessada, não temos com quem falar. Para as decisões que devíamos tomar ( às vezes o melhor é não fazer nada, mas refletir um pouco),precisamos de informação, que nasce da comunicação. Mas, no século dos mais altos decibéis, quando se trata da palavra somos desajeitados : temos medo de falar, e temos de silenciar. Múltipla escolha – Lya Luft “

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